Fonte: d24am
Os Peixes-bois da Amazônia, que já foram de grande interesse comercial entre os anos de 1935 e 1954, atualmente ainda sofrem com a caça ilegal para o consumo de carne. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apontou que cerca de 500 animais dessa espécie são abatidos por ano. Para diminuir esses números, o Amazonas conta com uma equipe de pesquisadores e voluntários que se dedicam diariamente aos cuidados dessas raridades.
Procurados pelo PORTAL D24AM, os colaboradores da ONG Associação Amigos do Peixe-Boi (AMPA) - que existe há uma década - contaram sobre o tratamento dado ao peixes-bois, desde a chegada dos animais aos tanques do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ao processo de reintrodução na natureza.
De acordo com o biólogo Diogo Souza, existem 50 mamíferos da espécie nos tanques do Inpa, sendo 10 adultos, 29 jovens( com idade entre 3 à 6 anos) e 11 filhotes. O peixe-boi mais velho do cativeiro, chama-se 'Boo', uma fêmea que está no instituto há 38 anos. Ela é especial por dois motivos: foi a primeira da espécie a chegar no Inpa e é mãe do primeiro peixe-boi nascido em cativeiro, o 'Erê', que atualmente está com 14 anos.
O biólogo informou também que os animais são monitorados semanalmente. "Fazemos a biometria completa. Pesamos, medimos, e observamos as alterações que acontecem nos peixes-bois", explicou. Diogo ressaltou ainda que nos mamíferos com até 100 quilos, as coletas de sangue são realizadas mensalmente, já nos que pesam mais de 100 quilos, os exames são feitos bimestralmente.
Diogo contou que os animais adultos e jovens se alimentam de capim coletados pelos tratadores dos peixes-bois no Catalão da Ceasa. Frutas e vegetais como repolho, cenoura, pepino e jerimum também servem de alimento para os mamíferos. Já os filhotinhos são amamentados 6 vezes ao dia, de duas em duas horas, sendo a primeira mamadeira às 7h30. O leite é produzido pelos próprios pesquisadores, e é composto por leite em pó, óleo de canola e suplementos nutritivos.
Enquanto um peixe-boi é amamentado pelo tratador Marcelo Soares, que há 16 anos cuida dos mamíferos, os outros companheiros que estão no berçário, ao sentirem o cheiro do leite, mordem as nadadeiras uns dos outros. Ele explicou que as mordidas fazem parte da rotina dos filhotes, pois eles são órfãos, e as mamas dos peixes-bois fêmeas se localizam nas partes próximas às nadadeiras.
Os filhotes nascem com aproximadamente um metro de comprimento e com 12 quilos. Ao chegarem na adolescência (aos 2 anos) chegam a pesam cerca de 70 quilos. Já na fase adulta, eles podem pesar até 450 quilos. Seu metabolismo é de apenas 36% do previsto para um mamífero placentário do mesmo porte. A fêmea de peixe-boi produz em geral, apenas um filhote a cada gestação, e esses mamam até os dois anos de idade.
Reintrodução na natureza
A bióloga Isabel Reis, explicou que o processo de reintrodução dos peixes-bois em seu habitat natural começou no ano de 2008. A maioria dos animais resgatados são órfãos, por conta da caça às mães, que no período de amamentação ficam mais vulneráveis.
Após a reabilitação dos animais, o objetivo da equipe é soltar os mamíferos nos rios amazônicos. "Nós não queremos mantê-los em cativeiro por toda a vida, então nós procuramos fazer com que eles retornem para a natura e desenvolver sua importância ecológica na natureza", comentou Isabel.
Entre 2008 e 2009, dois mamíferos foram devolvidos aos rios, sendo dois em cada ano. Porém, os pesquisadores perceberam que estes animais tiveram dificuldades ao se adaptar ao habitat natural. "Foi difícil para alguns conseguirem alimento, e como eles viviam em tanques, não estavam acostumados com a cheia e baixa dos rios, alguns chegaram a ficar encalhados", contou.
Por conta disso, em 2011 um novo processo de reintrodução foi adotado pela equipe. Agora, os mamíferos são levados para um semi-cativeiro, no município de Iranduba, onde são monitorados trimestralmente até que estejam prontos para serem devolvidos à natureza. Mesmo depois de livres, os profissionais continuam monitorando os peixes-bois através de um cinto com um radiotransmissor.
Educação Ambiental
A AMPA conta também com uma equipe de educação ambiental, que visa principalmente a valorização, interesse, e respeito pela natureza junto à população. Mas Isabel lembrou que a equipe não tem o papel de fiscalização, "nosso trabalho é conscientizar, e isso vem dando cada vez mais certo, a fiscalização fica por conta do Ibama e da Polícia Ambiental, que vem trabalhando paralelamente conosco".
Ela informou que a maioria dos filhotes que chegam até o Inpa, são provenientes de comunidades ribeirinhas, onde a caça acontece. Segundo Isabel, os cuidados e a preocupação da população é cada vez visível. "As próprias pessoas das comunidades nos ligam e avisam que estão caçando os peixes-bois. Isso é muito importante pois mostra que nosso trabalho de educação está sendo eficiente", finalizou.
Quem quiser conhecer mais sobre os mamíferos, basta visitar o Bosque da Ciência, que fica localizado no Inpa, na rua Otávio Cabral, Petrópolis, zona centro-sul de Manaus. A visitação é aberta ao público e custa R$ 5 para adultos, crianças até 10 anos não pagam, e idosos acima de 60 também tem entrada livre.